Alberto Domingues Vianna1; Taísa Davaus Gasparetto2; Gisela Costa Torres3; José Carlos Saddy4; Edson Marchiori5
RESUMO
Objetivo: Caracterizar os aspectos mamográficos de cancerização de lóbulos associados a carcinoma ductal in situ (CDIS), por meio de correlação entre achados de imagem e histológicos. Materiais e Métodos: O presente estudo retrospectivo foi baseado em uma revisão de laudos histopatológicos de 135 pacientes submetidas a biópsia de mama. O diagnóstico de cancerização de lóbulos associada a CDIS foi confirmado em 12 das pacientes. Dois casos foram excluídos porque os cortes histopatológicos não estavam disponíveis para correlação da patologia com a mamografia. Todas as imagens mamográficas foram retrospectivamente analisadas às cegas quanto aos resultados histológicos e classificados por dois experientes radiologistas especializados em mama. Resultados: Nove casos (90%) apresentavam microcalcificações redondas agrupadas e um (10%) apresentava calcificações lineares. A distribuição das calcificações foi definida como lobular em todos os casos. A análise histopatológica demonstrou quatro casos de CDIS cribriforme, dois casos de comedocarcinoma, um caso de CDIS sólido, um caso de CDIS cribriforme associado com sólido e um caso de CDIS cribriforme associado com sólido e comedocarcinoma. No caso em que havia calcificações redondas e lineares, o subtipo histológico era de CDIS cribriforme. Com relação ao número de microcalcificações, nove casos apresentavam mais do que 20 e apenas um caso apresentava menos do que 10 microcalcificações. Conclusão: Na presente coorte, a avaliação mamográfica de pacientes com CDIS apresentando cancerização de lóbulos demonstrou agrupamentos de microcalcificações redondas com distribuição lobular. Embora agrupamentos de calcificações redondas sejam normalmente associados a um processo benigno, a cancerização de lóbulos por CDIS pode produzir um padrão similar, mimetizando, assim, uma condição benigna.
Palavras-chave: Mamografia; Carcinoma ductal in situ; Microcalcificações.
ABSTRACT
Objective: To characterize the mammographic appearance of cancerization of lobules by ductal carcinoma in situ (DCIS), by correlating imaging and histological findings. Materials and Methods: This retrospective study was based on a review of the histopathological reports of 135 patients who underwent breast biopsy. A diagnosis of cancerization of lobules by DCIS was confirmed in 12 patients. Two cases were excluded because the histopathological sections were not available to correlate pathological and mammographic findings. All mammograms were retrospectively reviewed and categorized by two experienced breast radiologists, with no knowledge of the histological findings. Results: Nine cases (90%) presented clusters of round microcalcifications, and one (10%) had round and linear calcifications. The distribution of the calcifications was defined as lobular in all the cases. Histopathological study showed four cases of cribriform DCIS, two cases of comedo DCIS, one case of solid DCIS, one case of cribriform associated with solid DCIS, and one case of cribriform associated with solid and comedo DCIS. In the case showing round and linear calcifications, the histological subtype was cribriform DCIS. With respect to the number of microcalcifications, nine cases presented more than 20, and only one case showed less than 10 microcalcifications. Conclusion: In our cohort, the mammographic evaluation of patients with DCIS presenting cancerization of lobules demonstrated clusters of microcalcifications in a lobular distribution. Although clusters of round calcifications are typically associated with a benign process, cancerization of lobules by DCIS may produce a similar pattern, thus mimicking a benign condition.
Keywords: Mammography; Ductal carcinoma in situ; Microcalcifications.
INTRODUÇÃO A cancerização de lóbulos associada com carcinoma ductal in situ (CDIS) é um padrão patológico que pode ser definido como a maior extensão do CDIS para lóbulos e ductos interlobulares(1). A identificação da cancerização de lóbulos é importante, já que é considerada como fator preditivo relevante e independente de invasão em pacientes com CDIS diagnosticado por biópsia(2). De nosso conhecimento, nenhum estudo anterior avaliou os aspectos mamográficos da cancerização de lóbulos por CDIS. O objetivo do presente estudo foi descrever os aspectos mamográficos da cancerização de lóbulos por CDIS, correlacionando achados de imagem e histológicos. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo retrospectivo foi baseado em uma revisão de laudos histopatológicos de 135 pacientes submetidas a biópsia de mama em dois hospitais, no período entre 1998 e 2006, e que receberam diagnóstico final de CDIS. O diagnóstico de cancerização de lóbulos por CDIS foi confirmado pela biópsia em 12 das 135 pacientes. Dois casos foram excluídos em razão de os cortes histológicos não estarem disponíveis para correlação da patologia com os achados mamográficos. O estudo foi aprovado pelo comitê de revisão institucional dos dois hospitais. As imagens mamográficas foram obtidas em incidências mediolateral e craniocaudal com diferentes sistemas de tela-filme de alta resolução (GE 600T e GE DMR; GE Medical Systems, Milwaukee, WI, EUA) dos dois hospitais. Incidências adicionais foram obtidas com técnica de magnificação, a critério do radiologista. Em todos os casos, radiografias dos espécimes foram obtidas para confirmar a excisão das microcalcificações e para orientar a análise histológica. Todas as mamografias foram retrospectivamente analisadas e classificadas por dois experientes radiologistas especialistas em mama, sem prévio conhecimento dos achados histológicos. À mamografia, as microcalcificações foram classificadas em termos de morfologia, distribuição e número, e foram correlacionadas com o padrão histopatológico. A forma das calcificações foi classificada em: 1) calcificações redondas – neste grupo incluem-se as calcificações puntiformes, redondas e ovais, e aquelas que são nitidamente definidas; 2) calcificações amorfas, indistintas, em forma de flocos e de aparência imprecisa; 3) calcificações pleomórficas ou heterogêneas, com forma irregular, variando em tamanho e formato, e com diâmetro inferior a 0,5 mm; 4) calcificações finas, lineares e ramificadas, incluindo calcificações irregulares, finas (< 1 mm)(3,4). Em relação ao padrão de distribuição, as calcificações foram classificadas em: 1) ductais – distribuídas linearmente com uma forma triangular/trapezoidal; 2) lobulares – agrupamentos de calcificações redondas; 3) indefinidas – este grupo define a distribuição de calcificações que não pode ser classificada como dentro dos padrões ductal ou lobular( 3,5). Os grupos de calcificações foram classificados em: até 10 calcificações; de 10 a 20; e mais do que 20 calcificações. Os espécimes histológicos originados de uma combinação de core-biópsias e excisões cirúrgicas foram corados com hematoxilina-eosina para avaliação patológica e estadiamento. Os espécimes patológicos foram analisados por um experiente patologista especializado em mamas, sem conhecimento prévio dos achados mamográficos, e que os classificou segundo seu subtipo histológico predominante. A classificação histopatológica do CDIS foi baseada nas descrições de Tavassoli(6) e Rosen( 7), a saber: micropapilar, cribriforme, comedo, sólido e papilar. Cancerização de lóbulos foi definida como envolvimento parcial de um grupo de lóbulos por células de CDIS, dentro de uma unidade ductolobular terminal, de tal forma que tais lóbulos sejam reconhecíveis como parte de uma única unidade(6,8). RESULTADOS Nove casos (90%) apresentaram agrupamentos de microcalcificações redondas e um (10%) apresentou calcificações redondas e lineares. A distribuição das calcificações foi definida como lobular em todos os casos. Nos nove casos com agrupamentos de microcalcificações redondas, o estudo histopatológico demonstrou: quatro casos de CDIS cribriforme (Figura 1), dois casos de comedocarcinoma (Figura 2), um caso de CDIS sólido, um caso de CDIS cribriforme associado com sólido (Figura 3) e um caso de CDIS cribriforme associado com sólido e comedocarcinoma. O caso com calcificações redondas lineares foi histologicamente classificado como CDIS cribriforme. Com relação ao número de microcalcificações, nove casos apresentaram mais do que 20 e apenas um caso revelou menos do que 10 microcalcificações.