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EDITORIAIS

A ressonância magnética na avaliação pré-operatória de pacientes com câncer de mama

Magnetic resonance imaging in the preoperative evaluation of breast cancer patients

Cristine Norwig Galvão



Apesar do sucesso inegável da mamografia na detecção do câncer de mama, o método apresenta limitações importantes, sendo uma delas a elevada densidade do parênquima fibroglandular, o que dificulta a detecção de lesões malignas. Outra limitação significativa é que, na análise retrospectiva, cerca de 33% das neoplasias malignas de mama já existiam em exames anteriores e não haviam sido detectadas (exames falso-negativos)(1,2). Desde a sua introdução na década de 1970, houve avanços significativos da ressonância magnética (RM) na detecção e no diagnóstico do câncer de mama. Na década de 1980 surgiram os primeiros artigos de RM no estudo desta afecção, mas apenas o contraste intrínseco dos tecidos, ponderado em T1 e T2, não permitia o diagnóstico da doença. Em 1989, Kaiser et al.(3) e Heywang et al.(4) reportaram, de forma independente, que os cânceres de mama detectados na mamografia apresentaram reforço com contraste à base de gadolínio, permitindo diferenciá-los do tecido de fundo. Outro achado significativo foi o realce tumoral de lesões ocultas na mamografia(1,3,4). Embora não exista protocolo de RM unificado, alguns princípios básicos são aceitos universalmente para um bom estudo das mamas: utilização de aparelhos com campo magnético igual ou acima de 1 tesla, uso de bobinas dedicadas para mamas e utilização de contraste intravenoso com estudo dinâmico(1). É de conhecimento que a RM tem sensibilidade acima de 90% na detecção de câncer de mama invasivo, porém, permanece indefinido na literatura o benefício do seu uso na avaliação de estadiamento pré-operatório. Apesar do seu uso no exercício clínico diário para a detecção de cânceres na mama, bem como detecção de câncer na mama contralateral, esta prática não necessariamente melhora os desfechos clínicos dos pacientes(5). O emprego deste método na avaliação pré-operatória tem resultado em aumento do número de mastectomias, porém, estas pacientes submetidas à RM por si só já representam um grupo mais suscetível a este tratamento mais radical do que as pacientes que não realizam este exame: pacientes jovens, com mamas densas, com mutações genéticas, de alto risco, apresentam tumores mais agressivos, realizam exames em centros mais especializados e apresentam condições socioeconômicas melhores. Assim como na comunidade internacional, numerosos outros trabalhos científicos nacionais nas diversas áreas do diagnóstico por imagem trazem contribuições relevantes no estudo desta enfermidade(6–13). Como a literatura ainda não demonstrou resultados consistentes do papel da RM da mama em pacientes com neoplasia conhecida e elegíveis para terapia conservadora, França et al.(14), em artigo publicado neste número da Radiologia Brasileira, procuram avaliar o papel deste exame no planejamento terapêutico, comparando o maior diâmetro do tumor medido na RM com as medidas obtidas na mamografia e no ultrassom e comparando com a peça operatória. Procuram também avaliar a presença de lesões adicionais não detectadas em exames prévios e como estes achados podem influenciar no planejamento terapêutico. Houve uma melhor correlação do tamanho do tumor na peça operatória com a RM do que com os métodos convencionais. Outro aspecto foi que a RM foi capaz de detectar 33,1% de lesões adicionais na mesma mama ou na mama contralateral, sendo que um terço correspondia a lesões malignas, modificando o planejamento terapêutico em 14,4% das pacientes. As limitações do estudo acima citado foram a análise retrospectiva, a não possibilidade de avaliar os tumores em todos os exames convencionais, a ausência de padronização de equipamentos e a ausência de revisão de imagens, porém, os autores destacam que a ressonância foi mais acurada na avaliação do maior diâmetro do tumor principal e que foi eficaz na detecção de tumores adicionais não visualizados em exames convencionais. A discussão do artigo traz uma análise do estado atual deste tópico, com vários artigos relevantes, permitindo um aprofundamento do conhecimento nesta área. Destaca-se o trabalho de Turnbull et al.(15), que é um estudo prospectivo randomizado, multicêntrico, que visa analisar a eficácia clínica da RM com contraste em pacientes com câncer primário de mama. Os resultados até agora divulgados demonstram que a utilização da RM não trouxe benefícios para as pacientes, quando comparado com a abordagem conjunta de mamografia, ultrassom e biópsia(15). REFERÊNCIAS 1. Schnall MD. Breast imaging technology: application of magnetic resonance imaging to early detection of breast cancer. Breast Cancer Res. 2001;3:17–21. 2. Saarenmaa I, Salminen T, Geiger U, et al. The visibility of cancer on earlier mammograms in a population-based screening programme. Eur J Cancer. 1999;35: 1118–22. 3. Kaiser WA, Zeitler E. MR imaging of the breast: fast imaging sequences with and without Gd-DTPA. Preliminary observations. Radiology. 1989;170:681–6. 4. Heywang SH, Wolf A, Pruss E, et al. MR imaging of the breast with Gd-DTPA: use and limitations. Radiology. 1989;171:95–103. 5. Houssami N, Hayes DF. Review of preoperative magnetic resonance imaging (MRI) in breast cancer: should MRI be performed on all women with newly diagnosed, early stage breast cancer? CA Cancer J Clin. 2009;59:290–302. 6. Freitas-Junior R, Rodrigues DCN, Corrêa RS, et al. Contribution of the Unified Health Care System to mammography screening in Brazil, 2013. Radiol Bras. 2016;49:305–10. 7. Badan GM, Roveda Júnior D, Piato S, et al. Diagnostic underestimation of atypical ductal hyperplasia and ductal carcinoma in situ at percutaneous core needle and vacuum-assisted biopsies of the breast in a Brazilian reference institution. Radiol Bras. 2016;49:6–11. 8. Almeida JRM, Gomes AB, Barros TP, et al. Predictive performance of BI-RADS magnetic resonance imaging descriptors in the context of suspicious (category 4) findings. Radiol Bras. 2016;49:137–43. 9. Holanda AAR, Gonçalves AKS, Medeiros RD, et al. Ultrasound findings of the physiological changes and most common breast diseases during pregnancy and lactation. Radiol Bras. 2016;49:389–96. 10. Villar VCFL, De Seta MH, Andrade CLT, et al. Evolution of mammographic image quality in the state of Rio de Janeiro. Radiol Bras. 2015;48:86–92. 11. Avelar MS, Almeida O, Alvares BR. Mammographic artifact leading to false-positive result. Radiol Bras. 2015;48:198–9. 12. Rocha RD, Girardi AR, Pinto RR, et al. Axillary ultrasound and fine-needle aspiration in preoperative staging of axillary lymph nodes in patients with invasive breast cancer. Radiol Bras. 2015;48:345–52. 13. Paixão L, Oliveira BB, Viloria C, et al. Monte Carlo derivation of filtered tungsten anode X-ray spectra for dose computation in digital mammography. Radiol Bras. 2015;48:363–7. 14. França LKL, Bitencourt AGV, Paiva HLS, et al. Role of magnetic resonance imaging in the planning of breast cancer treatment strategies: comparison with conventional imaging techniques. Radiol Bras. 2017;50:76–81. 15. Turnbull L, Brown S, Harvey I, et al. Comparative effectiveness of MRI in breast cancer (COMICE) trial: a randomised controlled trial. Lancet. 2010;375:563–71. Mestre, Médica Radiologista do Hospital Unimed Sorocaba e da Clínica IDS de Sorocaba, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: crismagalvao@gmail.com

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