Sr. Editor,
Mulher de 33 anos de idade, apresentando lombalgia intermitente irradiada para a região suprapúbica há cinco meses. Negou disúria ou hematúria. Tomografia computadorizada demonstrou ureterolitíase, e a paciente foi tratada conservadoramente, com melhora parcial. Evoluiu com piora da intensidade e frequência da dor, associadas a polaciúria. Exame físico sem alterações significativas. Exame simples de urina demonstrou eritrócitos no sedimento urinário. Ressonância magnética revelou formação polipoide, alongada, com provável origem no ureter médio e deslocamento inferior, com cerca de 4,8 cm de comprimento (Figuras 1A e 1B). Ureteroscopia mostrou pólipo ureteral intraluminal (Figura 1C). A paciente foi submetida a ressecção endoscópica (Figura 1D), realizada com sucesso, apresentando melhora dos sinais e sintomas. Relatório anatomopatológico confirmou pólipo fibroepitelial (PFE).
Figura 1. Urorressonância magnética coronal (
A) e reconstrução tridimensional (
B) demonstrando formação polipoide, alongada, com provável origem no ureter médio (setas).
C: Ureteroscopia mostrando pólipo intraluminal.
D: Aspecto macroscópico da lesão.
Embora tumores do aparelho geniturinário não sejam incomuns
(1-4), os tumores primários do ureter são raros, representando apenas 1% de todos os tumores do aparelho urinário alto. As lesões benignas são ainda mais raras, atingindo apenas 20% de todos os tumores do ureter, sendo de origem epitelial ou não epitelial. Os tumores não epiteliais têm origem na mesoderme e incluem os fibromas, leiomiomas, neurofibromas, hemangiomas e PFE
(5). Os PFEs, apesar de raros, são as lesões benignas mais frequentes do ureter. São lesões mesodérmicas que consistem em tecido conjuntivo hiperplásico com estroma vascular e recoberto por urotélio. A etiologia é desconhecida, mas acredita-se que possam ser lesões congênitas de crescimento lento ou resultantes de irritação urotelial crônica como inflamação, infecção, trauma ou obstrução. PFEs são mais encontrados em homens (3:2), sendo a maioria lesões únicas e com menos de 5 cm de comprimento
(6,7). Hematúria é o sintoma mais comum, mas podem manifestar-se com dor lombar e, menos frequentemente, com disúria e polaciúria.
Os PFEs se apresentam de forma altamente variável, podendo ser avaliados utilizando várias técnicas de imagem, que auxiliam no diagnóstico e localização da lesão. A urografia intravenosa e a ureterografia retrógrada eram os principais meios de avaliação de uma lesão ureteral, radiologicamente
(5). A ressonância magnética vem sendo cada vez mais utilizada, com o desenvolvimento de sequências mais rápidas, e os benefícios incluem imagens multiplanares, excelente contraste de tecidos moles, além da ausência de radiação ionizante. Pode delinear a extensão do tumor, fornecendo informações importantes para o planejamento terapêutico e um diagnóstico mais preciso. A ausência de invasão local, linfonodopatia regional e de metástases a distância fornece subsídio de imagem para o diagnóstico de uma lesão ureteral benigna. Os pólipos geralmente são vistos como defeitos de enchimento alongados, delgados e geralmente lisos, frequentemente encontrados no ureter proximal e às vezes associados a uretero-hidronefrose
(5). A presença de urina ao redor do defeito de enchimento, a demonstração de um anexo polipoide e o aumento do comprimento da massa ureteral são características de imagem altamente sugestivas de PFE
(7,8). Deve-se obter sempre a confirmação histológica da lesão antes de se realizar o tratamento definitivo
(6).
O tratamento de escolha é a ressecção local, minimamente invasiva, porém não é incomum a ureterectomia segmentar ou a nefroureterectomia por dúvidas no diagnóstico pré-operatório. No caso de exclusão renal por obstrução prolongada, o tratamento de eleição é a nefroureterectomia
(9,10).
REFERÊNCIAS
1. Miranda CLVM, Sousa CSM, Bastos BB, et al. Giant renal angiomyolipomas in a patient with tuberous sclerosis. Radiol Bras. 2018;51:64-5.
2. Oliveira TS, Stamoulis DNJ, Souza LRMF, et al. Leiomyoma of the seminal vesicle. Radiol Bras. 2018;51:200-1.
3. Sousa CSM, Viana IL, Miranda CLVM, et al. Hemangioma of the urinary bladder: an atypical location. Radiol Bras. 2017;50:271-2.
4. Fernandes AM, Paim BV, Vidal APA, et al. Pheochromocytoma of the urinary bladder. Radiol Bras. 2017;50:199-200.
5. Faerber GJ, Ahmed MM, Marcovich R, et al. Contemporary diagnosis and treatment of fibroepithelial ureteral polyp. J Endourol. 1997;11:349-51.
6. Ugras S, Odabas O, Aydin S, et al. Fibroepithelial polyp of the ureter associated with an adjacent ureteral calculus. Int Urol Nephrol. 1997;29:543-9.
7. Bellin MF, Springer O, Mourey-Gerosa I, et al. CT diagnosis of ureteral fibroepithelial polyps. Eur Radiol. 2002;12:125-8.
8. Lai TK, Chung CH, Chin AC, et al. Magnetic resonance imaging for ureteral fibroepithelial polyp. Hong Kong Med J. 2008;14:408-10.
9. Lam JS, Bingham JB, Gupta M. Endoscopic treatment of fibroepithelial polyps of the renal pelvis and ureter. Urology. 2003;62:810-3.
10. Kijvikai K, Maynes LJ, Herrell SD. Laparoscopic management of large ureteral fibroepithelial polyp. Urology. 2007;70:373.e4-7.
1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil;
https://orcid.org/0000-0001-5930-1383
2. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil;
https://orcid.org/0000-0002-8679-7369
3. Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil;
https://orcid.org/0000-0003-4946-2292
4. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ. Brasil;
https://orcid.org/0000-0001-8797-7380
5. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil;
https://orcid.org/0000-0003-0006-3725
Correspondência:
Dr. Thiago Franchi Nunes
Avenida Senador Filinto Müller, 355, Vila Ipiranga
Campo Grande, MS, Brasil, 79080-190
E-mail:
thiagofranchinunes@gmail.com
Recebido para publicação em 07/November/2017
Aceito, após revisão, em 04/December/2017