O impacto isquiofemoral pode causar dor na região glútea posterior profunda, no quadril e na virilha e, por ser incomum, este diagnóstico é frequentemente negligenciado ou postergado. A dor pode irradiar para a região posterior da coxa por compressão ou irritação do nervo ciático, em razão da proximidade do ciático com a borda posterior do músculo quadrado femoral
(1). A mensuração do espaço isquiofemoral (≤ 15 mm) e do espaço do quadrado femoral (≤ 10 mm) costuma auxiliar no diagnóstico dessa condição, mas o padrão de referência para obter o diagnóstico de impacto isquiofemoral continua sendo a presença de sintomas combinada com alteração de sinal de edema no músculo quadrado femoral nas imagens de ressonância magnética
(2,3).
O impacto isquiofemoral é mais frequente em mulheres, na meia-idade ou em pacientes idosos. A etiologia é multifatorial, podendo ser predisposto ou causado por diferentes condições: alterações pós-cirúrgicas, deformidades do fêmur como coxa valga, coxa brevis e excesso de antetorsão, instabilidade ou displasia do quadril, retroversão pélvica e tendinopatia dos isquiotibiais, entre outras causas
(4–6).
O edema muscular tipicamente é identificado na porção central do ventre do quadrado femoral, na área de maior pinçamento anatômico, diferente do que seria esperado no estiramento muscular, em que o edema tende a se situar ao longo da junção miotendínea distal
(1).
A mensuração dos espaços isquiofemoral e quadrado femoral realizada nas imagens de ressonância magnética pode variar com o posicionamento do paciente, sendo influenciada pelo grau de flexão, de adução e rotação do quadril, assim como pelo decúbito
(7,8). As medidas realizadas nos exames de imagem de rotina podem não refletir as variações que ocorrem durante atividades diárias ou práticas esportivas
(8). A mensuração desses espaços tende a ser menor com a rotação externa, com a adução ou com a extensão do quadril e, portanto, o posicionamento do quadril é um importante fator a ser controlado na avaliação por imagens. Este é um dos vários motivos pelos quais se tornam importantes estudos prospectivos.
No número anterior da Radiologia Brasileira acha-se publicado um estudo prospectivo a respeito do impacto isquiofemoral
(9), provavelmente o primeiro estudo com esta característica na literatura internacional. O estudo prospectivo de Barros et al.
(9) confirmou os achados de redução significativa dos espaços isquiofemoral e quadrado femoral em pacientes com diagnóstico de impacto isquiofemoral. Todos os pacientes incluídos no estudo prospectivamente foram avaliados e examinados de forma padronizada. No entanto, o estudo tem limitações significativas, principalmente em relação ao pequeno número de pacientes incluídos. Assim como nos estudos prévios da literatura, também não foi realizada a avaliação longitudinal, o que limita as conclusões a respeito de fatores causadores ou protetores.
Aguardamos que futuros estudos prospectivos com maior número de pacientes e que estudos longitudinais sejam viabilizados para aumentar nosso conhecimento a respeito desse diagnóstico desafiador.
REFERÊNCIAS
1. Kassarjian A, Tomas X, Cerezal L, et al. MRI of the quadratus femoris muscle: anatomic considerations and pathologic lesions. AJR Am J Roentgenol. 2011;197: 170–4.
2. Akça A, Şafak KY, İliş ED, et al. Ischiofemoral impingement: assessment of MRI findings and their reliability. Acta Ortop Bras. 2016;24:318–21.
3. Singer AD, Subhawong TK, Jose J, et al. Ischiofemoral impingement syndrome: a meta-analysis. Skeletal Radiol. 2015;44:831–7.
4. Johnson KA. Impingement of the lesser trochanter on the ischial ramus after total hip arthroplasty. Report of three cases. J Bone Joint Surg Am. 1977;59:268–9.
5. Hernando MF, Cerezal L, Pérez-Carro L, et al. Evaluation and management of ischiofemoral impingement: a pathophysiologic, radiologic, and therapeutic approach to a complex diagnosis. Skeletal Radiol. 2016;45:771–87.
6. Carvalho AD, Garcia FL, Nogueira-Barbosa MH. Ischiofemoral impingement secondary to valgus intertrochanteric osteotomy: a case report. Radiol Bras. 2017; 50:335–7.
7. Johnson AC, Hollman JH, Howe BM, et al. Variability of ischiofemoral space dimensions with changes in hip flexion: an MRI study. Skeletal Radiol. 2017;46:59–64.
8. Atkins PR, Fiorentino NM, Aoki SK, et al. In vivo measurements of the ischiofemoral space in recreationally active participants during dynamic activities: a highspeed dual fluoroscopy study. Am J Sports Med. 2017;45:2901–10.
9. Barros AAG, Santos FBG, Vassalo CC, et al. Evaluation of the ischiofemoral space: a case-control study. Radiol Bras. 2019;52:237–41.
Professor Associado de Radiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
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