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CARTAS AO EDITOR

Fístula ureterocolônica como achado incidental no enema opaco de enchimento

Ureterocolic fistula as an incidental finding after barium enema

Michael Frank Pereira



Sr. Editor, Paciente mulher, 42 anos, com história de cirurgia de Hartmann há 7 meses para tratamento de carcinoma colorretal, em avaliação pré-operatória para fechamento da colostomia. Negou queixas clínicas, comorbidades e quimiorradioterapia prévia. Durante realização de clister opaco (Figura 1), observou-se opacificação do ureter e sistema coletor renal esquerdo pelo meio de contraste baritado, compatível com fístula ureterocolônica, com trajeto fistuloso de difícil caracterização, provavelmente interligando o coto distal ao terço médio do ureter esquerdo.
Figura 1. Enema opaco de enchimento. A,B: Incidências em perfil mostrando opacificação inicial do reto e cólon distal remanescente, ureter e sistema coletor renal esquerdo (A) e opacificação posterior da bexiga urinária (B). C: Incidência em em posteroanterior demonstrando opacificação posterior da bexiga urinária.
Houve também opacificação com o meio de contraste, posteriormente, da bexiga urinária. A análise cuidadosa das imagens é importante para evitar um diagnóstico incorreto de fístula vesicoentérica com refluxo vesicoureteral associado. Fístulas ureterocolônicas são raras, apresentando causas variadas, a maioria correspondendo a alterações de origem urológica(1), de etiologia iatrogênica, inflamatória, neoplásica ou, ainda, idiopática. O recente aumento do número de ureteroscopias e laparoscopias contribuiu sobremaneira para o aumento de sua incidência(2), pois a manipulação cirúrgica gera subsequente inflamação que acomete o ureter e leva à formação de fístula(3). Anatomicamente, a maioria dos casos envolve o ureter direito em seus terços superior e médio, raramente ocorrendo à esquerda(1,4,5). O sintoma mais comum é dor abdominal inespecífica, usualmente de localização em flancos. Irritação peritonial com acometimento do músculo psoas pode acarretar na ocorrência da tríade de Morton, composta por dor lombar, adução da coxa e flexão do membro inferior. Ausência de sintomas digestivos é a regra, sendo ocasional a presença de pneumatúria ou fezes na urina(6). O diagnóstico pode ser feito durante a realização de exame radiográfico contrastado, como um clister opaco e uretrocistografia miccional retrógrada(7). O clister opaco é o método mais confiável para demonstrar o trajeto fistuloso(8). A uretrocistografia miccional retrógrada pode permitir a visualização do trajeto fistuloso, porém, pode apresentar dificuldade na identificação do meato ureteral devido a presença de edema circunjacente associado ao processo inflamatório e existência de obstrução do trajeto ureteral que se associa ao processo fistuloso. A tomografia computadorizada é o método mais sensível para identificação de gás na via urinária e observação do trajeto fistuloso. O tratamento consiste na retirada cirúrgica da fístula, que apresentará técnica variável na dependência da porção ureteral acometida e também da presença ou não de uma eventual disfunção renal associada. No caso aqui relatado, o surgimento da fístula foi iatrogênico por manipulação cirúrgica prévia. A realização do exame contrastado foi essencial para a paciente, pois permitiu que a fístula fosse corrigida já no procedimento cirúrgico que estava em planejamento, além de permitir o encaminhamento da paciente para a nefrologia para acompanhamento clínico de eventual disfunção renal em instalação. REFERÊNCIAS 1. Sumiya H, Nagashima K, Naito H, et al. Ureteroduodenal fistula. Urol Int. 1985;40:33–5. 2. Maeda Y, Nakashima S, Misaki T. Ureterocolic fístula secondary to colonic diverticulitis. Urol Int. 1998;5:610–2. 3. Bensouda A, El Hader K, Sbihi L, et al. Entero-urinary fistula. Tunis Med. 2010;88:814–9. 4. Desmond JM, Evans SE, Couch A, et al. Pyeloduodenal fistulae. A report of two cases and review of the literature. Clin Radiol. 1989;40:267–70. 5. Infantino A, Dodi G, Lise M. Ureteroduodenal fistula. Br J Surg. 1987; 74:499. 6. Ducassou J, Richaud C, Duvainage JF, et al. A rare etiology of ureterocolic fistula. J Urol Nephrol (Paris). 1977;83:252–4. 7. Conde Santos G, Griñó Garreta J, Bielsa Gali O, et al. Uretero-colonic fistula in non-functioning ureter. Arch Esp Urol. 2001;54:1126–9. 8. Cirocco WC, Priolo SR, Golub RW. Spontaneous ureterocolic fistula: a rare complication of diverticular disease. Am Surg. 1994;60:832–5. Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil https://orcid.org/0000-0001-8799-2951 Correspondência: Dr. Michael Frank Pereira Universidade Federal do Espírito Santo Avenida Marechal Campos, 1355, Santa Cecília Vitória, ES, Brasil E-mail: michaelfp@gmail.com Recebido para publicação em 18/10/2017 Aceito, após revisão, em 27/12/2017

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