Gabriel Lacerda Fernandes1; Arivaldo Araújo Teixeira2; Ana Graziela Santana Antón3; Alan Timóteo Rodrigues Reis1; Ana Carolina Rezende de Freitas4; Dunya Bachour Basílio5
RESUMO
A síndrome de Churg-Strauss é uma doença sistêmica rara caracterizada principalmente por hipereosinofilia, asma e vasculite. O pulmão é o órgão mais frequentemente envolvido. Neste relato, descrevemos uma alteração relativamente rara nesta doença – a presença de um nódulo pulmonar –, ao mesmo tempo que recordamos os principais achados obtidos em exames radiológicos e os seus diagnósticos diferenciais mais importantes.
Palavras-chave: Vasculite; Eosinofilia; Asma.
ABSTRACT
Churg-Strauss syndrome is a rare systemic disease primarily characterized by hypereosinophilia, asthma and vasculitis. The lung is the organ most frequently involved. In the present report, the authors describe a relatively rare finding in this disease – the presence of a pulmonary nodule –, while recalling the main radiological findings and the most relevant differential diagnoses.
Keywords: Vasculitis; Eosinophilia; Asthma.
INTRODUÇÃO A síndrome de Churg-Strauss foi primeiramente descrita em 1951 por Churg e Strauss(1). É caracterizada por uma tríade clínica de asma, hipereosinofilia e vasculite necrosante. Os pacientes encontram-se usualmente na faixa etária de 20 a 40 anos e homens e mulheres são igualmente afetados(1–7). A etiologia da síndrome de Churg-Strauss ainda é desconhecida, mas se postula que resulte de uma resposta de hipersensibilidade a algum agente inalado. Raramente uma infecção parasitária ou droga antigênica para dessensibilização é o evento precipitante(1). Asma é a característica principal da síndrome(1–7). O pulmão é o órgão envolvido mais frequentemente, seguido pelos rins. Hemorragia pulmonar e glomerulonefrite são muito menos comuns do que em outras vasculites de pequenos vasos(1–5,7). O diagnóstico de síndrome de Churg-Strauss pode ser feito se quatro ou mais das seguintes alterações estiverem presentes: a) asma; b) mais de 10% de eosinofilia no hemograma; c) mono ou polineuropatia atribuível a vasculite sistêmica; d) opacidades pulmonares migratórias ou transitórias; e) anormalidades dos seios paranasais; f) eosinófilos extravasculares na biópsia. Na análise histopatológica, vasculite necrosante de pequenos vasos e um infiltrado inflamatório rico em eosinófilos com granulomas necrosantes são demonstrados(1,4,5). As manifestações radiográficas pulmonares mais comuns da síndrome de Churg-Strauss consistem em áreas de consolidação não segmentares, bilaterais e transitórias, sem predileção por qualquer zona pulmonar, lembrando a síndrome de Loeffler, ou podem ser predominantemente periféricas (50% dos casos), lembrando a pneumonia eosinofílica crônica ou pneumonia em organização(1–5,7). Os achados mais comuns vistos na tomografia computadorizada de alta resolução incluem opacidades subpleurais em vidro fosco ou consolidações com distribuição lobular, nódulos centrolobulares, espessamento da parede dos brônquios e espessamento septal interlobular. Achados menos comuns incluem hiperinsuflação, linfadenopatia hilar ou mediastinal, derrame pleural e/ou pericárdico, e ainda pequenas ou grandes opacidades nodulares que raramente sofrem cavitação(1–5). RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 38 anos de idade, natural de Riachão das Neves, BA, marceneiro. Referiu que há quatro meses, após início da atividade profissional, apresentou rinorreia, espirros e lesão em mucosa nasal. Procurou atendimento médico, tendo feito uso de antibioticoterapia com melhora do quadro, porém, após reexposição ao ambiente de trabalho referiu retorno dos sintomas. Evoluiu com aumento volumétrico nas regiões parotídeas, adenopatia cervical, disfagia, perda ponderal de cerca de 11 kg em seis meses e tosse produtiva com expectoração purulenta e raias de sangue. Realizou hemograma, que revelou eosinofilia de 24%. Na ressonância magnética de pescoço foi demonstrado aumento volumétrico das tonsilas palatinas e glândulas salivares maiores, além de sinusopatia maxiloetmoidal bilateral. A tomografia computadorizada de tórax (Figuras 1 e 2) mostrou múltiplos nódulos pulmonares, consolidação e opacidades em vidro fosco, sendo aventadas as possibilidades diagnósticas de granulomatose de Wegener e síndrome de Churg-Strauss. Foi realizada biópsia transtorácica do nódulo em lobo inferior esquerdo, que demonstrou infiltrado eosinofílico intenso e vasculite de pequenos vasos, compatíveis com síndrome de Churg-Strauss (Figuras 3 e 4).