Priscila do Carmo Santana1; Paulo Marcio Campos de Oliveira1; Marcelo Mamede2; Mariana de Castro Silveira3; Polyanna Aguiar3; Raphaela Vila Real3; Teógenes Augusto da Silva4
RESUMO
OBJETIVO: Avaliar o nível de radiação no ambiente de um serviço de PET/CT. MATERIAIS E MÉTODOS: Para a determinação dos níveis de radiação no ambiente foram utilizados dosímetros termoluminescentes TLD-100H previamente selecionados e calibrados. Estes detectores foram expostos durante 32 dias em diversos pontos estrategicamente escolhidos nas dependências do serviço e nos prédios adjacentes. Após o período de exposição, os dosímetros foram recolhidos e processados. RESULTADOS: Em nenhum dos pontos avaliados os valores medidos ultrapassaram os limites de restrição de dose para área controlada (5 mSv/ano) ou para área livre (0,5 mSv/ano) recomendados pelas normas brasileiras. CONCLUSÃO: Com este trabalho foi possível demonstrar que todas as blindagens do serviço estão adequadas e que, consequentemente, os trabalhadores, desde que seguindo as normas de radioproteção, receberão doses abaixo da dose de restrição indicada no Brasil.
Palavras-chave: Dosimetria; Dosimetria termoluminescente; PET/CT.
ABSTRACT
OBJECTIVE: To evaluate the level of ambient radiation in a PET/CT center. MATERIALS AND METHODS: Previously selected and calibrated TLD-100H thermoluminescent dosimeters were utilized to measure room radiation levels. During 32 days, the detectors were placed in several strategically selected points inside the PET/CT center and in adjacent buildings. After the exposure period the dosimeters were collected and processed to determine the radiation level. RESULTS: In none of the points selected for measurements the values exceeded the radiation dose threshold for controlled area (5 mSv/year) or free area (0.5 mSv/year) as recommended by the Brazilian regulations. CONCLUSION: In the present study the authors demonstrated that the whole shielding system is appropriate and, consequently, the workers are exposed to doses below the threshold established by Brazilian standards, provided the radiation protection standards are followed.
Keywords: Dosimetry; Thermoluminescence dosimetry; PET/CT.
INTRODUÇÃO A adoção de programas de monitoração ambiental tem como objetivo geral avaliar as condições radiológicas do local de trabalho. O programa de monitoração ambiental irá assegurar que as condições de trabalho sejam aceitavelmente seguras e satisfatórias para os indivíduos expostos e que os níveis de dose estabelecidos pela autoridade regulatória (no Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN), tanto para áreas livres quanto para áreas controladas não sejam ultrapassados(1). Como parte do programa de monitoração ambiental, existe a determinação da dosimetria ambiental. Esta dosimetria é necessária para estimar as doses em locais onde pode existir exposição às radiações ionizantes, tanto de indivíduos ocupacionalmente expostos quanto de pacientes e público em geral. A preocupação com a dosimetria ambiental existe em todas as modalidades de radiodiagnóstico. Adad et al. determinaram a curva de isodose em uma sala de mamografia e chegaram à conclusão que o uso de blindagem adicional em salas de mamografia não é necessário, já que, nas distâncias acima de 0,50 m, as medidas evidenciadas geravam doses absorvidas abaixo de 0,1 mGy por exposição realizada(2). Vieira et al. (Determinação das curvas de isodose em braquiterapia com fontes radioativas lineares. VI Congresso Brasileiro de Física Médica; 4 a 6 de outubro de 2001; Rio de Janeiro, Brasil) determinaram curvas de isodose em braquiterapia para fontes radioativas lineares, enquanto Goulart et al. (Determinação das curvas de isoexposição de um equipamento de fluoroscopia digital em uma sala de hemodinâmica. VIII Congresso Brasileiro de Física Médica; 13 a 16 de maio de 2003; Porto Alegre, Brasil) determinaram curvas de isodose em uma sala de hemodinâmica, e Andrade et al. (Determinação das curvas de isoexposição em pacientes submetidos à iodoterapia. VIII Congresso Brasileiro de Física Médica; 13 a 16 de maio de 2003; Porto Alegre, Brasil) estimaram as curvas de isodose para um equipamento de fluoroscopia digital e também no quarto em que os pacientes recebiam doses de iodoterapia em medicina nuclear. Avila et al. determinaram a dose ambiental em um serviço de medicina nuclear com TLD-100 e TLD-900. Na sala da gama-câmara, a taxa de equivalente de dose ambiental foi cerca de 0,05 µSv/h. Nos outros locais monitorados, com os dois tipos de detectores, os valores de equivalente de dose ambiental obtidos com TLD-900 foram 25-45% maiores do que os valores encontrados com a utilização do TLD-100. Este resultado foi atribuído à produção de radiação espalhada de baixa energia que resulta em maior resposta do TLD-900 e, portanto, os valores encontrados com o TLD-100 foram considerados mais confiáveis(3). Equipamentos de tomografia por emissão de pósitrons acoplada a tomografia computadorizada (PET/CT) são dedicados ao estudo de emissores de pósitron (por exemplo: 18F, 11C, 15O). O radioisótopo mais comumente encontrado nos centros de medicina nuclear com tecnologia PET/CT é a fluorodesoxiglicose marcada com flúor-18 (18F-FDG), cuja energia liberada após interação com o meio é de 511 keV, e sua meia-vida é de aproximadamente 109 minutos. A CT, que foi incorporada a essa tecnologia, é utilizada basicamente para a correção de atenuação dos órgãos adjacentes ao local de interesse do estudo e para auxiliar a localização anatômica precisa das alterações moleculares identificadas pela PET. Centros especializados em imagem diagnóstica com a técnica de PET/CT devem seguir os valores de restrição de dose anual (5 mSv para áreas controladas e supervisionadas e 0,5 mSv para áreas livres) estabelecidos na norma CNEN NN 3.01 - "Diretrizes de proteção radiológica"(1). Visando assegurar a proteção radiológica de trabalhadores e indivíduos do público, foi realizado no Centro de Imagem Molecular (CIMol), prédio anexo à Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, a dosimetria de toda a área ocupada pelo CIMol e das salas adjacentes. De acordo com a Portaria 453/98 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - "Diretrizes de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico" -, as áreas devem ser classificadas como áreas livres ou áreas controladas e os níveis de restrição de dose devem ser 0,5 mSv/ano e 5,0 mSv/ano, respectivamente(4). Já a norma CNEN NN 3.01 - "Diretrizes básicas de proteção radiológica" - estabelece que o serviço deve avaliar os níveis de restrição de dose compatíveis com suas atividades como condição limitante do processo de otimização da proteção radiológica(1). A American Association of Physicists in Medicine, em sua publicação AAPM-108 - "PET and PET/CT shielding requirements" -, recomenda a utilização do nível de 5,0 mSv/ano para fins de cálculo de blindagem, de modo a otimizar os níveis de radiação a que estão submetidos os indivíduos ocupacionalmente expostos(5). O presente trabalho tem o objetivo de demonstrar que os níveis de radiação das áreas ocupadas pelos profissionais que atuam na operação do equipamento de PET/CT, funcionários de áreas adjacentes e demais indivíduos do público, desde que seguindo as recomendações adequadas de radioproteção, são compatíveis com os valores de restrição para exposição externa de normas mais restritivas, como a Portaria 453/98. MATERIAIS E MÉTODOS O CIMol é um centro de imagens de PET/CT que segue os requisitos de radioproteção recomendados e realiza, periodicamente, a monitoração ambiental com detectores termoluminescentes para assegurar que os níveis de radiação estejam dentro dos limites recomendados. Sendo parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Molecular e prestando serviços de medicina nuclear, o CI-Mol ocupa uma área de aproximadamente 320 m2 e está equipado com o aparelho PET/CT modelo GE Discovery 690, que possui tecnologia de detectores LYSO e um tomógrafo de 64 canais (multislice). O CIMol possui, no 1º andar, as instalações do PET/CT compostas por uma recepção, dois banheiros para funcionários, copa, sala de reuniões e sala de laudos, instalações estas consideradas área livre. A área controlada é composta pela radiofarmácia, sala de controle, sala do aparelho PET/CT, sala de máquinas, posto de enfermagem, três banheiros exclusivos para pacientes, quatro boxes de ativação e área de expurgo. O acesso à área controlada só é possível por meio de identificação digital. No 2º andar deste mesmo prédio estão localizados um laboratório de pesquisa e escritórios nos quais os funcionários passam em média oito horas por dia. Utilizando dosímetros termoluminescentes de fluoreto de lítio dopados com magnésio, cobre e fósforo (LiF:Mg, Cu,P), modelo TLD-100H, calibrados na grandeza equivalente de dose para fótons (Hx), cujo limiar de detecção é de 5 × 10-3 mSv, monitorou-se toda a instalação do CIMol e suas adjacências. A calibração dos dosímetros foi realizada no Laboratório de Calibração de Dosímetros do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, instituto de pesquisa integrante da CNEN. A utilização do TLD-100H foi determinada por este ter algumas características vantajosas, entre elas alta sensibilidade à radiação gama, que chega a ser 40 vezes maior do que outros tipos de detectores termoluminescentes(6). As medidas de dosimetria ambiental foram obtidas pela exposição dos dosímetros compostos por TLD-100H durante um período de 32 dias consecutivos nos pontos indicados no croqui da instalação do CIMol, como apresentado nas Figuras 1 e 2. Cada ponto foi escolhido com base em sua ocupação por funcionários e indivíduos do público e o nível de radiação foi avaliado com três detectores termoluminescentes, para garantir maior confiabilidade metrológica. Os detectores foram posicionados no interior das instalações, protegidos por um suporte, a 1,4 m de altura, de modo a reproduzir a região mais exposta do tórax de um adulto padrão.