Sr. Editor,
Paciente feminina, 28 anos, foi submetida a tonsilectomia e desenvolveu desconforto respiratório no pós-operatório imediato. No dia seguinte realizou radiografias de tórax nas incidências posteroanterior e perfil que mostraram opacidades em ambos os pulmões, coalescentes, de bordas imprecisas, poupando a periferia, caracterizando o padrão dito em "asas de borboleta", compatível com processo alveolar difuso. A imagem cardíaca era normal (Figura 1A). Radiografias nas mesmas incidências realizadas três dias após, sem que a paciente usasse qualquer medicação, mostraram desaparecimento dessas opacidades (Figura 1B).

Figura 1. A: Incidência posteroanterior de tórax mostrando opacidades coalescentes, de limites imprecisos, bilaterais, configurando o padrão dito "em asas de borboleta", típico de processo alveolar. A imagem cardíaca tem dimensões normais. Este exame foi feito um dia após tonsilectomia. A paciente apresentava discreta dispneia. B: Incidência posteroanterior de tórax, três dias após. Houve involução total do processo alveolar demonstrado no exame anterior.
O edema pulmonar por pressão negativa (EPPN) constitui uma ocorrência rara em cirurgias (0,094%), mais frequentemente em cirurgias bucomaxilofaciais e orais devido a probabilidade de obstrução das vias aéreas superiores
(1-3). Divide-se o EPPN em duas classes. O do tipo I é decorrente de obstrução das vias aéreas superiores, como, por exemplo, laringoespasmo pós-extubação traqueal, epiglotite, obstrução da cânula traqueal e paralisia pós-operatória das cordas vocais
(3-6). O tipo II ocorre após realização de procedimentos cirúrgicos para correção de obstrução crônica das vias aéreas, como hiperplasia das tonsilas, apneia do sono, tumores e acromegalia
(7,8). O tratamento, nesses casos, deve ser direcionado no intuito de reverter a hipóxia e diminuir o volume líquido dos pulmões
(1-5). O prognóstico é bom, com involução, na maioria dos casos, nas primeiras 24 horas
(8).
Os achados na EPPN nas radiografias e na tomografia computadorizada de tórax são edema intersticial, evoluindo para edema alveolar nos casos mais graves. Os sintomas e os achados radiológicos geralmente involuem em dois ou três dias
(6). Muitas doenças apresentam quadro radiológico de processo alveolar difuso, não sendo este achado específico de nenhuma delas
(9). A paciente era hígida, sem comorbidades, em pós-operatório imediato de cirurgia de vias aéreas superiores (tonsilectomia), com resolução espontânea em apenas três dias.
Embora o padrão radiológico tenha sido inespecífico, o antecedente cirúrgico e a rápida resolução do quadro permitiram excluir outras causas, restando como único diagnóstico possível a EPPN. Desse modo, julgamos desnecessário prosseguir a investigação diagnóstica com outros métodos de imagem ou exames laboratoriais.
REFERÊNCIAS
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6. Sulek C. Negative-pressure pulmonary edema. In: Gravenstein N, Kirby RR, editors. Complications in anesthesiology. 2nd ed. Philadelphia, PA: Lippincott-Raven; 1996. p. 191–7.
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8. Albergaria VF, Soares CM, Araújo RM, et al. Edema pulmonar por pressão negativa após hipofisectomia transesfenoidal. Relato de caso. Rev Bras Anestesiol. 2008;58:391–6.
9. Felson B. Disseminated interstitial diseases of the lung. Ann Radiol. 1966;9:325–45.
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil
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