Sr. Editor,
Paciente do sexo feminino, 42 anos de idade, tabagista e com histórico de púrpura trombocitopênica trombótica, em terapia com corticosteroides e plasmaferese, deu entrada hospitalar com quadro de dor importante na região plantar do pé direito e dificuldade na deambulação, quadro iniciado há cerca de uma semana. Negava qualquer evento traumático, procedimento cirúrgico ou viagem recente. Ao exame físico percebia-se apenas hiperalgia à palpação. Foi solicitada ressonância magnética (RM) do pé direito, que demonstrou espessamento e falha de enchimento em toda a extensão da veia plantar lateral, associados a realce perivenular e edema das estruturas adjacentes, inferindo tromboflebite plantar (Figura 1). Foi realizada ultrassonografia suplementar, que mostrou material hipoecogênico no interior da veia plantar lateral associado a ectasia e não compressibilidade do vaso, assim como ausência de fluxo ao estudo Doppler, achados que corroboravam a hipótese inicial (Figura 2). A paciente recebeu alta hospitalar com orientações de repouso e tratamento com anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), apresentando melhora dos sintomas no acompanhamento ambulatorial.

Figura 1. A: Sequência DP com saturação da gordura demonstrando espessamento parietal da veia plantar lateral, associado a edema perivascular (seta). B,C: Sequência T1 pós-injeção de contraste mostrando falha de enchimento endoluminal e realce perivascular (cabeças de setas).

Figura 2. Ultrassonografia da região plantar mostrando material hipoecogênico no interior da veia plantar lateral, associado a ectasia e não compressibilidade do vaso, assim como ausência de fluxo ao estudo Doppler.
Tromboflebite plantar (TFP) é uma condição rara
(1), havendo menos de 100 casos publicados atualmente
(2), caracterizada pela formação de trombo intraluminal nas veias plantares. Acomete preferencialmente mulheres com idade média de 58,2 anos
(3). A veia, geralmente trombosada, é a plantar lateral, acometida em 96% dos casos, seguida pela plantar média, em 41% das vezes
(3). São especulados diversos agentes causais, entre eles, traumas
(4,5), síndromes paraneoplásicas
(6,7), estado pós-cirúrgico
(4,7), trombofilias
(2,6), uso de anticoncepcionais
(2,4), imobilização
(5,6) e infecção pelo HIV
(7). Contudo, a maioria dos casos é classificada como idiopática
(2).
Os sinais e sintomas cardinais de TFP são a dor plantar
(1-3) de início recente
(7,8) e o edema local, com apresentação tipicamente unilateral
(1), associados a limitação da deambulação
(2).
Como a lista de diagnósticos diferenciais é vasta, os métodos de diagnóstico por imagem tornam-se uma ferramenta útil na correta caracterização da doença.
A ultrassonografia é considerada o principal método no diagnóstico da TFP
(1,3), demonstrando conteúdo venoso hipoecoico
(2,6) associado a ectasia
(2,5,6), perda da compressibilidade vascular
(2,4) e ausência de fluxo ao estudo Doppler
(2,6). Entretanto, as veias plantares são negligenciadas no exame de rotina
(1,2,4), o que pode explicar a baixa taxa de diagnóstico da doença.
A RM tem ganhado destaque, pois, além de fazer o diagnóstico de TFP, consegue excluir outras possíveis causas de dor plantar
(2). Tem como achados principais a caracterização de falha de enchimento intraluminal das veias plantares
(2,4,6), associada a edema
(5,6) e realce perivenular
(5). Esses achados foram encontrados em 100% dos casos, em um dos maiores estudos versando sobre o tema
(5). Em contrapartida, somente em 2008 foi descrito o primeiro caso de TFP diagnosticado pela RM
(9).
A TFP não possui tratamento definido
(1,3), havendo a possibilidade de uso de anticoagulação
(1-4,6), AINES
(1,3,6), meias elásticas
(3,6) e repouso
(6). Todavia, as terapias têm mostrado resultados semelhantes.
As complicações mais importantes da TFP são a progressão da trombose para as veias profundas da perna
(7) e a ocorrência de tromboembolismo pulmonar
(1).
Dentre os diagnósticos diferenciais da TFP, podemos destacar: fasciite plantar
(2,4,5), afecções tendíneas
(3,5), bursites
(5), neuroma de Morton
(4,5), fraturas de estresse
(2,4,5), sesamoidite
(5) e cistos gangliônicos
(5). Não há descrição de óbito relacionado à TFP.
REFERÊNCIAS
1. Barros M, Nascimento I, Barros T, et al. Plantar vein thrombosis and pulmonary embolism. Phlebology. 2015;30:66-9.
2. Bruetman JE, Andrews JA, Finn BC, et al. Plantar vein thrombosis as a cause of local pain. Medicina (B Aires). 2014;74:87-8.
3. Czihal M, Röling J, Rademacher A, et al. Clinical characteristics and course of plantar vein thrombosis: a series of 22 cases. Phlebology. 2014. [Epub ahead of print].
4. Karam L, Tabet G, Nakad J, et al. Spontaneous plantar vein thrombosis: state of the art. Phlebology. 2013;28:432-7.
5. Miranda FC, Carneiro RD, Longo CH, et al. Tromboflebite plantar: achados em ressonância magnética. Rev Bras Ortop. 2012;47:765-9.
6. Geiger C, Rademacher A, Chappell D, et al. Plantar vein thrombosis due to busy night duty on intensive care unit. Clin Appl Thromb Hemost. 2011;17:232-4.
7. Barros MV, Labropoulos N. Plantar vein thrombosis - evaluation by ultrasound and clinical outcome. Angiology. 2010;61:82-5.
8. Bernathova M, Bein E, Bendix N, et al. Sonographic diagnosis of plantar vein thrombosis: report of 3 cases. J Ultrasound Med. 2005;24:101-3.
9. Siegal DS, Wu JS, Brennan DD, et al. Plantar vein thrombosis: a rare cause of plantar foot pain. Skeletal Radiol. 2008;37:267-9.
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