Sr. Editor,
Paciente masculino, 53 anos, com dorsalgia nos últimos 3 meses, apresentando recentemente quadro de paraparesia progressiva, sem alteração do controle esfincteriano. Ressonância magnética da coluna dorsal (Figuras 1A e 1B) mostrou lesão expansiva, de contorno lobulado, acometendo mediastino posterior e estendendo-se para o canal vertebral, provocando redução da amplitude e compressão medular. Observou-se ainda lesão sincrônica, de aspecto semelhante, acometendo a 12
a vértebra dorsal. Estudo histopatológico demonstrou células grandes com citoplasma vacuolizado, núcleos parcialmente vesiculares e algumas demonstrando nucléolos proeminentes, com aspecto de células fisalíferas (do grego
physallis, bolha), compatíveis com cordoma (Figura 1C).
Figura 1. Ressonância magnética, imagens T2 axial (
A) e T1 com contraste sagital (
B) mostram lesão comprometendo o mediastino posterior e invadindo o canal vertebral (seta em
B). Estudo histopatológico (
C) demonstra as células fisalíferas.
A literatura radiológica brasileira vem, recentemente, ressaltando a importância dos métodos de imagem no aprimoramento do diagnóstico das alterações intratorácicas
(1-5). Cordomas são tumores malignos de crescimento lento, derivados de remanescentes primitivos da notocorda. Tipicamente, surgem na quinta e sexta décadas de vida
(6,7), com discreta predileção pelo sexo masculino e acometimento preferencial pela região sacrococcígea (50%), seguida da região esfeno-occipital (35%) e colunas cervical e lombar, sendo raros na coluna dorsal e mediastino posterior
(6-8). Sintomas frequentemente aparecem somente depois de a lesão atingir grandes dimensões, com invasão local comprometendo estruturas neurovasculares. A recorrência local é comum caso a ressecção completa não seja possível.
Nos diagnósticos diferenciais devem ser considerados metástases, condrossarcoma, mieloma múltiplo, tumores neurogênicos, dentre outros. Apesar de os métodos de imagem ajudarem na delimitação, o diagnóstico é histopatológico
(7).
Na ressonância magnética, a maioria das lesões apresenta-se iso/hipointensas em T1 e hiperintensas em T2 e STIR, refletindo seu alto conteúdo de água, podendo ainda apresentar septos fibrosos de permeio, mostrando baixo sinal em T2
(6-8). O realce pelo gadolínio tende a ser moderado e heterogêneo
(6,8). As lesões são frequentemente associadas a erosão óssea, diferentemente do nosso caso. Estudos recentes destacam o uso da sequência em difusão na diferenciação de cordomas e condrossarcomas, mostrando valores maiores do coeficiente de difusão aparente nos condrossarcomas
(9,10).
Além do local de acometimento incomum, o paciente deste caso apresentou a peculiaridade de lesão sincrônica. Alguns autores relataram casos semelhantes
(7,8,11,12), porém, não existe nenhum critério específico para diferenciação de cordomas multicêntricos e disseminação metastática. Acreditamos que nosso caso possa corresponder a disseminação liquórica, já que havia comprometimento do canal vertebral.
O tratamento de escolha é a ressecção cirúrgica associada a radioterapia adjuvante, que proporciona um tempo livre de doença de aproximadamente 2,5 anos a mais em relação ao tratamento cirúrgico isolado
(7). Como o cordoma é radiorresistente à radioterapia convencional, outras modalidades são utilizadas, como a radiocirurgia estereotáxica. Quimioterapia não é uma terapêutica com boa resposta, somente sendo observada, em pequenos estudos, atividade antitumoral com uso de mesilato de imatinib
(13).
Apesar de raro, o diagnóstico de cordoma deve ser lembrado dentro das possibilidades diagnósticas de lesões acometendo o mediastino posterior. Além disso, convém efetuar pesquisa para descartar a presença de lesões sincrônicas.
REFERÊNCIAS
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11. Badwal S, Pal L, Basu A, et al. Multiple synchronous spinal extra-osseous intradural chordomas: is it a distinct entity? Br J Neurosurg. 2006;20:99-103.
12. Simon SL, Inneh IA, Mok CL, et al. Multiple epidural lumbar chordomas without bone involvement in a 17-year-old female: a case report. Spine J. 2011;11:e7-10.
13. Casali PG, Stacchiotti S, Sangalli C, et al. Chordoma. Curr Opin Oncol. 2007;19:367-70.
1. Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, Rio de Janeiro RJ, Brasil
2. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Endereço para correspondência:
Dr. Bruno Niemeyer de Freitas Ribeiro
Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer – Departamento de Radiologia
Rua do Rezende, 156, Centro
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 20231-092
E-mail:
bruno.niemeyer@hotmail.com