Sr. Editor,
Paciente masculino, 18 anos, admitido no hospital com tosse e cansaço há 15 dias. Na ausculta cardíaca apresentava abafamento de bulhas. A radiografia de tórax obtida na admissão demonstrou aumento da área cardíaca e moderado derrame pleural à direita. Foi realizado ecocardiograma, que mostrou importante derrame pericárdico com sinais de restrição diastólica e uma massa hipoecoica, arredondada, de contornos regulares, medindo 3,6 × 3,9 cm, localizada posteriormente ao átrio direito. O paciente foi submetido a pericardiocentese, com análise do líquido coletado. Na sequência investigatória do caso foram solicitadas tomografia computadorizada (TC) de tórax e ressonância magnética cardíaca (RMC). A TC de tórax (Figura 1) revelou massa sólida, heterogênea, com realce pelo meio de contraste, localizada na porção posterior do saco pericárdico, associada a derrame pericárdico e derrame pleural. Na RMC (Figura 2) foi observada massa sólida, com conteúdo heterogêneo, medindo 3,2 × 6,1 × 3,9 cm, localizada na porção posterior do saco pericárdico e com pontos de aderência a este, com captação importante e heterogênea do contraste pela técnica de realce tardio, além de inflamação pericárdica. Com base nos achados de imagem sugestivos de neoplasia e no resultado citológico do líquido pericárdico inconclusivo, foi optado por se realizar ressecção cirúrgica da massa. O diagnóstico do estudo histopatológico da peça cirúrgica foi sinoviossarcoma de pericárdio. Após um mês de internação, o paciente obteve alta hospitalar e está em seguimento oncológico ambulatorial.
Figura 1. TC de tórax com contraste, cortes coronal (
A) e axial (
B) na janela para mediastino, demonstrando massa sólida heterogênea com realce pelo meio de contraste localizada na porção posterior do saco pericárdico, associada a derrame pericárdico e derrame pleural à direita com dreno pleural associado.
Figura 2. RMC no eixo curto utilizando a técnica do realce tardio (
A) e no eixo longo (
B) demonstrando massa sólida, com conteúdo heterogêneo, medindo 3,2 × 6,1 × 3,9 cm, localizada na porção posterior do saco pericárdico e com pontos de aderência a este, com realce importante e heterogêneo do contraste pela técnica de realce tardio, além de inflamação pericárdica.
A RMC vem assumindo papel crescente no estudo das doenças cardiovasculares
(1-4). O sinoviossarcoma de pericárdio é um tumor maligno primário do pericárdio histologicamente semelhante à sinóvia, que se origina de células mesenquimais
(5). É uma doença extremamente rara, com prevalência ainda incerta e discreto predomínio em jovens do sexo masculino
(6). Os sintomas são variados, desde ausência de sintomas até derrame pericárdico com tamponamento cardíaco, dispneia, febre, perda de peso e fenômenos embólicos
(7). O prognóstico do sinoviossarcoma de pericárdio é ruim, entretanto, alguns pacientes podem se beneficiar da ressecção cirúrgica, radioterapia e/ou quimioterapia
(8,9). A suposição diagnóstica nos pacientes assintomáticos baseia-se em lesões incidentais encontradas em exames de imagem cardíacos, e nos pacientes sintomáticos a suposição diagnóstica surge com exames de imagem direcionados, porém, a confirmação só pode ser estabelecida com análise histopatológica
(6,8).
Apesar de a imagem tumoral ser inespecífica no ecocardiograma, este é fundamental para a detecção inicial da doença, quantificação do derrame pericárdico, avaliação da função e restrição cardíaca, além de permitir análise comparativa com os posteriores exames de seguimento
(10). Na TC e na RMC observa-se massa sólida, heterogênea, com áreas multiloculadas
(11) e septos internos, podendo apresentar invasão das estruturas adjacentes, derrame pericárdico e focos de metástases. A RMC é considerada a melhor modalidade para detecção e caracterização do tumor, sendo possível observar o grau de vascularização, detalhar melhor a invasão cardíaca, de necrose, e permitir controle no pós-tratamento
(10,12). Nesse contexto, pode-se concluir que, embora os exames de imagem não confirmem o diagnóstico, eles possuem papel fundamental na detecção, na caracterização e no planejamento pré-operatório e pós-operatório do sinoviossarcoma de pericárdio.
REFERÊNCIAS
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1. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil
2. Hospital Niterói D’Or, Niterói, RJ, Brasil
3. Grupo Oncologia D’Or, Niterói, RJ, Brasil
Endereço para correspondência:
Dr. Alessandro Severo Alves de Melo
Hospital Universitário Antonio Pedro
Rua Marques de Paraná, 303, 2º andar, Centro
Niterói, RJ, Brasil, 24033-900
E-mail:
alesevero@gmail.com